ATA DA TRIGÉSIMA NONA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATI VA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 17.09.1992.
Aos dezessete dias do mês de setembro do ano de mil
novecentos e noventa e dois reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio
Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Nona Sessão Solene
da Quarta Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete
horas e vinte e seis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor
Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a
homenagear a Semana Farroupilha através do Requerimento nº 39/ 92 (Processo nº
478/92), do Vereador Wilson Santos. A seguir, o Senhor Presidente convidou os
Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades
presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Dilamar Machado, Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre; Senhor José Carlos Mello D’Ávila, Diretor-Presidente
da EPATUR e representando o Prefeito Municipal; Senhor Ivo Benfatto, Conselheiro
do Movimento Tradicionalista Gaúcho; Desembargador Adalberto Libório Barros,
representando o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul; Coronel Marcelo de Oliveira Dantas, representando o Comando da Terceira
Região Militar e o General Yvens Ely Marcondes; Tenente-Coronel Eugênio
Ferreira da Silva Filho, Comandante do Corpo de Bombeiros; Senhor João Luiz
Barth Rangel, Vice-Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho; e o Vereador
Wilson Santos, 2º Secretário. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a
todos para ouvirem, de pé, o Hino
Nacional. Após, o Senhor Presidente reportou-se acerca do evento, agradeceu e
consignou a presença da Segunda Companhia Feminina da Brigada Militar e concedeu
a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador João Dib, em
nome da Bancada do PDS, reportou-se sobre a culminância da data de vinte de
setembro, lembrando Bento Gonçalves que marcou a democracia conforme constava
dos ideais farrapos. Discorreu sobre a história no Rio Grande do Sul, Província
de São Pedro, comentando as lutas contra os imperiais. Falou sobre a
Constituição Farroupilha, dizendo que o objetivo não era separar o Brasil, mas
avançar em conquistas libertárias Disse que a Revolução Farroupilha aconteceu
por honra e dignidade do povo gaúcho. O Vereador Wilson Santos, proponente e em
nome das Bancadas do PL, PT, PMDB, PTB, PPS e PDT, falou sobre o valor
histórico e cultural desta data, comentando projeto de lei de sua autoria que
criou a Semana Farroupilha. Reportou-se sobre o livro de Lauro Rodrigues,
analisando a proibição dessa obra, através do qual o poeta se insurgia em
versos contra o centralismo exagerado da União e contra a pesada carga de
impostos. Citou versos, interpretando-os e fazendo paralelo entre os mesmos e o
Brasil atual. Disse, ainda, que o autor propugnava pelo cumprimento das leis.
Homenageou o Movimento Tradicionalista Gaúcho. A seguir, o Senhor Presidente
concedeu a palavra ao Senhor Ivo Benfatto que em nome do Movimento
Tradicionalista Gaúcho e Patrão do Trinta e Cinco CTG, disse que essa Semana
Farroupilha deve ser destinada a reflexão, lembrando o momento atual. Analisou
as condições econômicas e políticas do Brasil, relacionando norte e sul. Em
continuidade foram feitas apresentações pelos grupos Querência dos Piazitos, da
FEBEM e do Trinta e Cinco CTG. Às dezoito horas e seis minutos, nada mais
havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos,
convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental.
Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Dilamar Machado e secretariados
pelo Vereador Wilson Santos, 2º Secretário. Do que eu, Wilson Santos, 2º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em
avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 2º Secretário.
O SR. PRESIDENTE: Tenho a honra de abrir,
em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, a Sessão Solene destinada a
homenagear a Semana Farroupilha a Requerimento do Ver. Wilson Santos, líder do Partido
Liberal, e que mereceu a aprovação unânime da Câmara Municipal de Porto Alegre.
Convido a todos os presentes, na abertura dos trabalhos,
para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro.
(Execução do Hino Nacional.)
O SR. PRESIDENTE: Gostaria de, em nome da
Casa, agradecer e consignar a presença entre nós da 2ª Cia. Feminina da Brigada
Militar e também agradecer de forma particular a presença de tão ilustres
companheiros e integrantes da Brigada Militar, oficiais e oficiais de praças
que nos honram com a presença nesta solenidade. Para nós, Vereadores da Capital
do Estado de Rio Grande do Sul, além de ser uma tradição, é uma obrigação desse
Legislativo preservar a Semana Farroupilha com toda a solenidade que merece por
toda a história neste Estado e do seu povo. Para abrir as homenagens da Semana
Farroupilha convido para a Tribuna, o nobre Ver. João Dib, que falará em nome
do PDS.
O SR. JOÃO DIB: Exmº Sr. Presidente,
Ver. Dilamar Machado, Senhores, Senhoritas, Senhoras, Prezados Vereadores.
Estamos vivendo mais uma Semana Farroupilha, culminando com
a data de 20 de setembro, grata a todos nós gaúchos. Mais do que uma simples
referência regional, o movimento liderado pelo grande Bento Gonçalves marcou,
definitivamente, a opção regional pela república como o modo mais legítimo para
exprimir uma democracia, conforme constava dos ideais farrapos. De 1835 a 1845,
os revolucionários viram-se obrigados a pegar em armas contra o Império do
Brasil, esquecidas que foram algumas das suas mais profundas e justas
reivindicações.
Autonomia, impostos excessivos sobre produtos básicos da
Província de São Pedro, especialmente o charque, e o não retorno em aplicações
financeiras no extremo-sul do Brasil marcaram o início de uma rebeldia que
culminaria, depois, na República do Piratini.
Como verdade histórica, devemos repudiar que o movimento
farrapo foi feito para separar a Província do resto do Brasil. Não, a separação
veio depois, esgotadas todas as tentativas de ver atendidas as reivindicações
dos revoltos. Tanto isso é verdade que feito o oferecimento de tropas
argentinas para ajudar na luta contra os imperiais e nossos líderes de então
afirmarem que os soldados estrangeiros seriam mortos e seu sangue permitiria a
assinatura da paz.
Hoje, passados 150 anos da Constituição Farroupilha,
elaborada em 1842, ou seja, 7 anos após o movimento, vemos que os grandes
ideais de então não eram separar o Brasil, mas avançar em conquistas
libertárias, democráticas e republicanas.
A influência farroupilha acabou desaguando na proclamação da
república no Brasil, em 1889, 44 anos após o encerramento da Revolução
Farroupilha. Felizmente, no apaziguamento da revolta dos pampas tivemos a forte
figura do Duque de Caxias que soube entender, atender e unificar os líderes que
contestavam o Império. Todos sabem, Duque de Caxias, Manoel Alves de Lima e
Silva, trouxe de volta para o convívio da mãe-pátria aqueles que estavam
lutando contra suas tropas.
Hoje, passados 157 anos da epopéia que ensangüentou nosso
solo sagrado, reverenciamos aqueles que lutaram contra a opressão, e o descaso
oficial e por ideais progressistas no seu tempo. Infelizmente, agora, como no
século passado, ainda temos do que reclamar, tal como a falta de investimentos
oficiais no Rio Grande do Sul. Mas, o grande exemplo dos farrapos e do seu
sacrifício foi o amor pelo Brasil acima de todas as desavenças, o anseio pela
liberdade e a democracia, além, é claro, do engendrado amor pelo nosso chão, a
Província de São Pedro, nosso querido Rio Grande do Sul, parte fundamental do
Brasil que tanto queremos ver próspero e organizado, superando as desigualdades
sociais.
A revolução farroupilha aconteceu pela honra e pela
dignidade do povo gaúcho. Acho que o Brasil está necessitando, mais do que
nunca de honra e dignidade. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, para
falar em nome do PL, do qual é Líder da Bancada nesta Casa, do PT, do PMDB, do
PTB, do PPS e do PDT, Ver. Wilson Santos, autor do Requerimento que nos
conduziu a esta solenidade.
O SR. WILSON SANTOS: Exmº Sr. Presidente
desta Casa, Ver. Dilamar Machado e demais presentes a esta Sessão.
Eu tenho muita consciência do valor histórico e cultural
desta Casa, tanto que apresentei um Projeto de Lei criando a Semana
Farroupilha. E este Projeto de Lei mereceu a receptividade dos Vereadores desta
Casa. Foi aprovado, sancionado pelo Prefeito, e é uma lei na cidade.
E eu quero dizer, também, do orgulho que tenho de falar em
nome do Partido Liberal, e em nome dos outros Partidos, com assento nesta Casa,
já mencionados pelo Presidente deste Legislativo.
Eu resolvi não escrever, propriamente, um discurso. Resolvi
apanhar um livro, cuja edição é de 1958. Um livro produzido, escrito pelo
saudoso poeta Lauro Rodrigues, cujo texto é muito bom, e cujo título é
"Senzala Branca". E eu, muitas vezes, me perguntei, por que este
livro foi tirado de circulação, e proibida a sua edição? Eu consegui ficar com
um dos raros exemplares, porque foi recolhido de circulação. E eu analisando,
vejo que no bojo do livro o poeta, realmente, se insurgia em versos, contra um
centralismo exagerado da União, contra uma pesada carga de impostos, incapaz de
ser suportado pelos contribuintes gerais desta Nação. E coloco na homenagem o
saudoso Lauro Rodrigues que dizia, em alguns versos, assim: "Velho Pampa
lendário de outras eras, onde erguem-se lúgubres taperas, tripudiando quais
flâmulas de luto, nestas tardes de junho ao sol poente. Parece-me que eu sinto
o que tu sentes, quando o silêncio do teu canto e a brisa nas carquejas dos
varzedos, chorando confessas que tens medo de enfrentar esta miséria atroz e na
tristeza sem fim dos corredores vibram hinos e clamores contra as algemas da
canalha algoz. Mas não percebes, decrépito campeiro, que as rondas do abutre
carniceiro, grasnam sobre ti funero agouro; que és um abraço do
"Gigante" que mendiga e "deitado em berço esplêndido" se
obriga a pedir pão sob um dossel de ouro?..."
Realmente, o Brasil é um dossel de ouro e é uma incoerência
fazer um dos braços deste gigante mendigar, quando nós temos toda esta
potencialidade. Alguma coisa deve estar errada e eu não entendo onde está o
pecado mortal deste poeta de mostrar esta realidade numa ação extremamente
livre e democrática. Ele dizia: "Tenho pena de ti,- senzala branca / dessa
coletividade honesta e franca que de tanto esperar já desespera... Tuas
vísceras são campos de imundícies, onde o vírus malsão das canalhices se
robustece, cresce e prolifera... Enquanto isso, cérebros raquíticos,-
sanguessugas de pântanos políticos /- fomentam leis que não trescalam nada...
Mas não tarda que a aurora do futuro tinja de escarlate o céu escuro dos párias
desta estância abandonada... Nesse dia, meu pampa, os teus heróis, ostentando
nas mãos raios de sóis e cavalgando fagulhas celestiais, virão beber na fúria
dos motins, o sangue nutrido nos festins dos que colheram sem semear
jamais..."
Aqui eu entendi ser uma crítica: Os que semeiam não colhem.
Nós mandamos os nossos impostos para o poder central e ele retorna em forma de
migalhas. Nós temos suplicado e bradado para que seja dada prioridade, como
governo, como poder à segurança externa, à segurança interna, especialmente à
saúde, à educação e à segurança pública. Entretanto, parece que o dinheiro se
esvai, parece que o dinheiro não volta, o dinheiro some. Talvez nós venhamos a
entender melhor o episódio "PC" que estamos vivendo neste momento.
Dizia o poeta: "Se a autoridade constitui estorvo / é surda e muda e não
escuta a voz / que atiça as vagas e a procela amaina / Ó céus, clemência para o
pobre povo! / Ó céus, justiça para o seu algoz! / Andai coveiros para a vossa
faina."
"Vasto pampa! Bandeira Tricolor! / Tu que amortalhas um
passado nobre, / tu que amortalhas um passado nobre, / tu que servistes de
laurel de glória, / deserda o filho que te for traidor, / pois não merece
compaixão. Descobre / quem te conserve no apogeu da história..."
"Ergue-te, resto, na sucata humana! / Cogumelo das
castas que dominam/ a dor fome com iníquas leis... / Não Vês que é o tempo de
marchar? Conclama! / Não trai os ímpetos que te assassinam!/ Quebra a coroa
desses falsos reis..."
"Fujam os monstros para os seus covis! / Reaja o povo
sem lhes dar perdão! / gravando a fogo seu cruel libelo! / Queimem-se as leis
que nos fizeram vis! / Ardam os lenhos d'outra inquisição! / Salve-se a espécie
que o futuro é belo..."
Porque Lauro Rodrigues, também, ele se queixava de leis que
não eram cumpridas e, conseqüentemente, nos tornavam vis e basta para entender
que era um protesto, ora um protesto, a autoridade tem obrigação de cumprir
leis e de respeitar o ordenamento jurídico institucional. Então, eu não via
onde estava o crime.
"Galga o Ararat da tua miséria / Vê como é triste,
sepulcral, funéria / a sorte amarga que as cidades têm... / Foram entulhadas as
chaminés de impostos!/ Patrões assoberbados de desgostos / com operários a
pedir também!..."
O Ver. Dib muito bem enfocou em seu pronunciamento, tem
imposto demais, não tem quem suporte esta cruel carga tributária, esta
voracidade fiscal, esta volúpia arrecadadora. E o poeta ia mais adiante, e eu
vou terminar nestes três últimos versos: "Escala as cristas do Piratini, /
onde as raças lusitana e guarani, / Caldearam Neto pra libertação... / Empunha
a lança de teu pensamento; / Faz da consciência escudo e suprimento; / Drapeja
os panos da revolução..."
"Faz adubo com o sangue dos canalhas! / Encarvoa os
seus ossos nas fornalhas; / lhes crema as almas se possível for... / Liberta-te
e caminha, minha Terra, / pois tu és grande como grande é a serra, / tu és
poderosa como o Criador!"
"Apeia, como outrora, o teu corcel! / Faz do pampa,
outra vez o teu quartel! / Solta o teu brando unitroante, enorme! /A multidão
te aguarda pressurosa! / Esta paz que tu vês é mentirosa! / Insufla as almas
que o Brasil não dorme... /, pois, o que se quer é manter o valor histórico e
cultural da Revolução Farroupilha. Foi um bravo desse nosso torrão. Quem não
valoriza o solo em que pisa, não merece o título de cidadania. Nós temos que
valorizar este nosso solo, nós temos, inclusive, que ter, na minha concepção, o
retorno de grandes lideranças políticas e grandes representantes deste nosso
solo. E sem querer ferir ninguém, já que temos alguns bons políticos
rio-grandenses, temos que ressaltar as grandes lideranças para que aquilo que
nós que recolhemos de impostos possa retornar com uma parcela maior, não como
migalha, para que possamos, então, ter a nossa altivez, a nossa fronte erguida.
E quero dizer que está muito retratado nos versos de outros poetas, como por
exemplo aquele que diz: "Valente galo de briga / Guasca vestido de penas /
Quando arrastas as chilenas, no tambor de um vinhadeiro, o teu ímpeto guerreiro
eu vejo um gaúcho avançando, ensangüentado, peleando, no calor de um entrevero.
E assim como tu lutas, frente a frente, peito nu, lutou também o chiru na
conquista deste chão." Então, ele faz, o poeta, um chamamento, a essa
altivez, ao desassombro e a coragem do gaúcho. E para finalizar, quero fazer
uma homenagem à Revolução Farroupilha, mas quero fazer uma homenagem ao
Movimento Tradicionalista Gaúcho e quero fazer uma homenagem, sobretudo, à
mulher, também, nos versos de Jaime Caetano Braum, apenas um ou dois versos.
Ele dizia: "A maior das gauchadas, / que há na Sagrada Escritura, / eu
falo como criatura / e penso que não me engano, / foi aquela em que o Soberano,
/ na sua pressa divina, / resolveu fazer a china / da costela do paisano. /
Bendita china gaúcha, / que tens na divina estampa, / um quê de nobre e altivo.
/ És perfume, é lenitivo / que num minuto escraviza o índio mais primitivo. /
Para mim, tu pialaste / os anjos na armada do teu sorriso, / fugindo do
paraíso... / Para esta campanha agreste / Em algum ritual campestre / Por força
do teu encanto / Tu transformaste / Este nosso pago santo / Num paraíso
terrestre / Bendita china gaúcha." (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Em nome do Movimento
Tradicionalista Gaúcho, fará uso da palavra seu Conselheiro Sr. Ivo Benfatto.
O SR. IVO BENFATTO: Exmº Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Dilamar Machado; meus Companheiros, meus
Amigos da Brigada Militar; Srs. Vereadores; Companheiros de luta
Tradicionalista; Senhoras e Senhores.
Estou aqui, na condição de Conselheiro do Movimento
Tradicionalista Gaúcho, mas gostaria de me reportar a uma outra das minhas
condições, a de Patrão do 35 CTG, o pioneiro do Tradicionalismo organizado,
neste Estado. (Palmas.) É nesta condição, de Patrão do 35 CTG, que lhes falo.
Estamos em momento de festa, estamos com as nossas pilchas, com as nossas
danças na praça, mas, antes de mais nada, estamos na Semana Farroupilha e,
neste momento, quero transmitir o conteúdo da nossa mensagem.
(Lê): "Nós, tradicionalistas, não podemos assumir uma
atitude alienada quanto às seriíssimas dificuldades pelas quais passam o Brasil
e o nosso Rio Grande. Não nos cabe fazer política partidária no âmbito de nossa
entidades- há os espaços apropriados para tal- mas temos o dever cívico de
exercer nossa cidadania e nos posicionar diante dos fatos com a mais absoluta
clareza, fiéis à Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Impulsionados pela condição de dirigentes do "35"
CTG, não nos eximiremos de nos posicionar, representando-o, em respeito à sua
história e à responsabilidade que o seu pioneirismo lhe confere.
Discorrer sobre as dificuldades pelas quais passamos, tanto
em nível regional como em nível nacional, é plenamente desnecessário, pois
sofremos, no dia-a-dia, seus danosos efeitos. Devemos buscar suas origens e
projetar soluções e... trabalhar para torná-las realidade.
O Poder, no Brasil, está centralizado, como sempre esteve,
em mãos que o exercitam sem levar em consideração as potencialidades e os
anseios regionais, igualando realidades completamente diferentes. Chamar o
Brasil de República Federativa não traduz a verdade, pois vivemos num Estado
unitário, não representativo da sociedade em seus estratos regionais.
Parece não preocupar o Poder Central o fato de, nós gaúchos,
termos nuances culturais diferenciadas, fruto de uma história de lutas e
conquistas na preservação deste território do Brasil meridional, abandonado que
foi, enquanto se criava condições para que o Leste se desenvolvesse, sob os
olhos e a proteção governamentais. Enquanto nos foi possível, crescemos e
construímos uma cultura que muito nos orgulha. O Governo Central, é injusto com
Estados, como o Rio Grande do Sul, se analisada nossa trajetória histórica,
quando pauta seus atos em legislação oriunda de um Parlamento onde há
desequilíbrio na representatividade de cada parlamentar, face aos votos recebidos,
o que possibilita clientelismo e a submissão do interesse de regiões mais
populosas e desenvolvidas, à vontade de minorias.
Somos brasileiros, e ninguém o é mais do que o gaúcho. Isso
foi visível em todos os momentos em que se fez necessário. Somos brasileiros a
despeito de tudo; até mesmo diante do posicionamento geopolítico que nos liga
mais ao Prata do que aos demais Estados ao norte. A nossa brasilidade foi
conquistada à pata de cavalo, na ponta das lanças, no sangue dos construtores
desta terra, e reafirmada na saga farroupilha quando clamávamos por justiça,
por reconhecimento, e pela federação de Estados republicanos, cujo maior e
melhor registro são as cores nacionais, o verde e o amarelo entrecortados pelo
vermelho do desejo republicano, que compõem a bandeira farrapa, ou ainda na
altiva resposta de Canabarro ao vizinho Rosas, recusando apoio castelhano na
luta contra o Império.
Nossa história registra a formação de uma identidade
cultural baseada em valores depurados pelas mãos calejadas dos imigrantes,
valorizados pela herança de suas tradições, sejam elas açorianas, alemãs,
italianas, polonesas, negras, espanholas, portuguesas e tantas outras mais
recentes, aqui amalgamadas. Temos na honra, na seriedade, na lealdade, no
respeito à palavra empenhada, na probidade, na fraternidade, na valentia, na
preservação da família e principalmente no trabalho, nossos valores maiores.
Mas a situação atual é crítica. Ontem, como hoje, nosso povo
sofre e nosso crescimento está emperrado pela má distribuição das verbas
públicas, o que nos impede de construir, no presente, um futuro digno, de
acordo com a nossa capacidade. Não temos o pleno direito de errar e acertar por
conta própria; estamos manietados por uma legislação injusta.
Essa situação está gerando a busca de soluções que muitas
vezes agridem nossa índole e nossa história, que contrariam nossos valores. Um
desses movimentos visa à criação de um estado independente do Brasil.
Respeitamos os que assim pensam, mas ali está presente a utopia, pois é tão impossível
separar o Rio Grande do Brasil, quanto seria separar personagens de uma mesma
história. É imperiosa a necessidade de se buscar um posicionamento e traçar
rumos que objetivem uma solução definitiva. Separar será o melhor caminho? Não
haverá atitude menos radical onde seja preservada a unidade nacional construída
por quase 500 anos? Os primeiros movimentos pregavam tão somente a separação do
Rio Grande; outros surgiram agregando ao Rio Grande os Estados de Santa
Catarina e do Paraná. Hoje já há quem fale em também anexar o Mato Grosso do
Sul e até o Estado de São Paulo. Diante disso, não é difícil inferir a intenção
inconsciente de manter o todo indivisível. O que desejamos é uma solução. O que
desejamos- e todos o desejamos- é maior autonomia para gerir nosso destino,
segundo nossa escala de valores.
Ao invés de separar o Rio Grande do Brasil, nossa maior
missão é colaborar, como já o fazemos na expansão da fronteira agrícola pelo
oeste do Brasil, para que os Estados irmãos também se desenvolvam por esforço
próprio, calcados em valores e, integrados, criemos uma sólida identidade
nacional, como somatório de todas as nossas tradições regionais, nossas
intenções e objetivos, onde não haja espaço para o "jeitinho
brasileiro", para o "tirar vantagem", para a "conversa
fiada", pois tudo deverá estar ocupado pelo trabalho, emoldurado pela
alegria de construir. Precisamos fazer do Brasil um país sério onde o trabalho
seja valorizado. Mas qual o caminho a seguir? Pelo quê devemos lutar?
Pela manutenção da unidade nacional, com respeito às
diferenças regionais, reconhecendo a cada Estado o direito à autogestão, onde
seja preservada a possibilidade de usufruir o fruto do seu trabalho em proveito
do próprio desenvolvimento.
Pela construção de uma identidade nacional baseada em
valores positivos e de uma consciência plena dos direitos e das obrigações
inerentes à cidadania.
Pela implantação, no país, de legislação coerente com o
verdadeiro conceito de federação.
Como tantos o fizeram no passado, afirmamos hoje nossa
brasilidade. O Rio Grande do Sul é e sempre será Brasil. A manutenção de
integridade é a palavra de ordem. Federação é a solução. Em qualquer chão,
sempre gaúcho." (Palmas.) Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A seguir, fará uma
apresentação o Grupo Querência dos Piazitos, da FEBEM, e, após, o Grupo
Tradicionalista, 35 CTG.
(São feitas as apresentações.)
O SR. PRESIDENTE: Esta presidência
agradece a presença de todos e encerra os trabalhos da presente Sessão.
(Levanta-se
a Sessão às 18h06min.)
* * * * *